Como proteger o seu dinheiro da tempestade da bolsa
Conheça cinco estratégias de investimento que podem ajudar os investidores a protegerem os seus portfólios.
Os últimos tempos na bolsa portuguesa têm sido impróprios para cardíacos. O dia-a-dia dos mercados é marcado pelo permanente sobe e desce e pelas flutuações do humor dos investidores a cada desenvolvimento, negativo ou positivo, em torno da crise da dívida soberana europeia que é noticiado. Ainda na última segunda-feira, o PSI 20 registou a maior perda diária em mais de um ano. Nesse dia o índice recuou mais de 4%. Já no dia seguinte, após um início de dia com perdas acentuadas, a acalmia voltava e o índice português terminava a recuperar perto de 1%. Já ontem, o vermelho voltou a marcar o sentimento do mercado. Para prevenir que o seu dinheiro seja arrastado por este turbilhão, o Diário Económico foi tentar perceber junto de especialistas que estratégias de investimento são as mais adequadas face ao actual contexto dos mercados.
Para os investidores que se possam sentir perdidos em relação à melhor forma de se posicionarem no mercado, um dos principais conselhos é que acima de tudo mantenham a cabeça fria. Como explica Gonçalo Gomes da direcção de marketing do ActivoBank, "qualquer que seja o contexto, com maior ou menor incerteza e volatilidade, o mais importante é que os investidores não percam de vista os seus objectivos de retorno, a sua tolerância ao risco e o seu horizonte temporal, não correndo risco nem a mais, nem a menos". A opinião de Diogo Serras Lopes, director de investimentos do Banco Best, vai no mesmo sentido. "A disciplina em termos de perfil de investimento deverá ser mantida, mesmo nos momentos de maior instabilidade e incerteza, mantendo-se uma óptica de investimento de longo prazo", frisa.
Para os investidores que apreciam a aposta em acções, no actual contexto parecem ainda assim existir alternativas onde colocar o dinheiro que oferecem um maior grau de segurança. Segundo Gonçalo Gomes, para além das empresas com reduzido nível de endividamento, os mercados emergentes são um dos focos de investimento a ter em consideração. "Temos vindo a defender o investimento em acções com exposição às economias mais saudáveis através de empresas multinacionais cotadas em países desenvolvidos, mas com uma facturação significativa proveniente dos países emergentes". Uma opinião também defendida por Diogo Serras Lopes, que acrescenta ainda a este leque de opções a selecção de empresas que operam em sectores de actividade menos cíclicos, bem como as que distribuem dividendos mais elevados, no sentido em que a componente de rendimento destes títulos possa contrabalançar eventuais perdas bolsistas.
Contudo, Diogo Serras Lopes deixa o alerta de que os investimentos devem ser feito menos tomando em conta a conjuntura actual e tendo mais em conta as perspectivas num prazo mais alargado. "Se é verdade que, actualmente, existem factores negativos a pressionar os mercados, a verdadeira questão a ter em conta prende-se com a visão sobre o crescimento económico a que cada empresa, região ou sector vai estar exposta durante os próximos anos e, naturalmente, o nível actual de avaliação do mercado accionista", lembra Diogo Serras Lopes.
Até no mercado obrigacionista que tem estado no enfoque da crise parecem continuar a existir boas oportunidades de investimento. Segundo o ActivoBank é o que acontece com a dívida de alguns países emergentes. Já o responsável do Best aconselha os investidores a olharem também para a dívida das empresas que apresentem perspectivas mais positivas.
Já para quem prefira olhar para os seus investimentos de uma forma muito conservadora, os depósitos a prazo merecem a atenção dos especialistas. "Neste momento, alguns depósitos a prazo são uma opção particularmente interessante para investidores de perfil conservador, já que a suas remunerações comparam favoravelmente com as taxa do mercado monetário em euros (Euribor)", lembra Gonçalo Gomes do ActivoBank. Alguns bancos oferecem actualmente taxas de juro brutas que ultrapassam os 4%.
Cinco estratégias a considerar
1 - Diversificar os investimentos
Aquele que, à partida, parece ser um conselho básico ganha especial importância se tivermos em conta o actual contexto da crise económica e a turbulência que atinge o mercado de acções. Os investidores devem construir uma carteira exposta a diferentes activos, com distintos perfis de risco, exposta a diferentes regiões do globo e não alocar toda a poupança num só activo, por mais seguro que lhe possa parecer. Se incluir na sua carteira, por exemplo, um fundo de investimento de acções globais estará já a contribuir para a diversificação dos seus investimentos. Conta ainda com a experiência da equipa dos gestores desses fundos.
2 - Fugir do turbilhão da crise
A crise da dívida soberana que parecia ter como alvos apenas alguns países periféricos ameaça contagiar mais países e está a ter implicações em toda a zona euro. Por essa razão, o investimento em acções europeias poderá não ser uma atitude prudente. Fora deste turbilhão, ainda assim, parece ficar o mercado germânico. Como explica Gonçalo Gomes, "o renovado dinamismo da economia alemã, beneficiando da elevada procura dos seus produtos por parte dos países emergentes, e sobretudo a resiliência do consumidor alemão [...] leva-nos a acreditar que o mercado accionista local poderá ter um retorno superior ao das acções globais ao longo dos próximos meses". Os mercados emergentes são também uma alternativa de refúgio para os investidores.
3 - Apostar na exposição internacional
Para os investidores portugueses, as acções nacionais podem ser uma aposta arriscada dado o período conturbado que a economia e o País atravessam. Mas, se não se quiser aventurar por outros mercados, deverá privilegiar os títulos da bolsa portuguesa que menos dependam da actividade nacional, já que estes deverão ser os mais penalizados pela crise. No caso da Jerónimo Martins, por exemplo, cerca de 60% das suas receitas são provenientes da actividade na Polónia. Em bolsa, as acções da retalhista continuam a bater recordes históricos e são as que mais valorizam desde o início do ano. Mas, claro que não existem garantias de que a boa performance do título se mantenha.
4 - Evitar os sectores mais penalizados
Os títulos do sector financeiro estão no centro do turbilhão da crise da dívida soberana e aconselha-se prudência e selectividade no seu investimento. O mesmo se passa com as cotadas com níveis mais elevados de alavancagem. É também por essa razão que é aconselhado o investimento em títulos do sector tecnológico que, para além da sua saúde financeira, segundo Gonçalo Gomes "registam actualmente o mais baixo rácio de dívida em relação ao capital". Os especialistas aconselham ainda a privilegiar os títulos de sectores de actividade menos cíclicos, bem como os títulos de empresas que distribuem dividendos mais elevados, no sentido em que a componente de rendimento destes títulos possa contrabalançar eventuais perdas bolsistas.
5 - Apostar em aplicações conservadoras
Para quem prefira fugir do mercado accionista, os depósitos a prazo são uma opção a ter em conta, já que as dificuldades de financiamento dos bancos está a levá-los a melhorarem a remuneração deste tipo de aplicações como forma de captar mais recursos. Em algumas instituições os juros brutos oferecidos ultrapassam os 4%. Apesar da actual crise estar centrada em torno da dívida, o Banco Best também aconselha os investidores mais conservadores a incluírem obrigações de empresas na sua carteira de investimentos. Como refere, Diogo Serras Lopes, "parecem existir alternativas no mercado de crédito de empresas para as quais as perspectivas são mais positivas".
fonte:http://economico.sapo.pt/