Os juros médios dos depósitos complexos tendem para zero. Em 2013, estes produtos renderam, em média, 1,7% por ano
Não é por acaso que os prospetos dos depósitos indexados e dos depósitos duais têm de classificar estes instrumentos como produtos financeiros complexos. O rendimento dos depósitos indexados depende da evolução de outra variável financeira, como o preço de ações, a cotação de índices de bolsa ou a valorização de matérias-primas. Os depósitos duais correspondem à comercialização conjunta de dois ou mais depósitos bancários, sendo um deles, por norma, um depósito indexado.
A complexidade é uma das razões para os analistas da PROTESTE INVESTE raramente recomendarem este tipo de produtos. Porém, o motivo mais relevante para evitar os depósitos indexados e duais é o rendimento potencial proporcionado pelas aplicações: a expectativa é que, em média, os juros destes instrumentos financeiros fiquem aquém dos alcançados pelos melhores depósitos a prazo simples, cujo rendimento é conhecido à partida, na altura da contratação da taxa de juro.
Rendimento nulo
Existe um fator comercial que justifica o sucesso de alguns depósitos complexos: a perspetiva de um ganho potencial superior às taxas em vigor nos depósitos a prazo tradicionais. Todavia, na prática, a probabilidade de ocorrência do cenário mais otimista é muito baixa. O mais provável é que o rendimento do depósito seja nulo ou próximo de zero. Em alguns produtos, a probabilidade do resultado final ser nulo é de cerca de 70%.
Para evitar a crítica do rendimento esperado ser próximo de zero, muitos bancos incorporam agora uma taxa de juro mínima garantida. Mesmo assim, este rendimento mínimo tende a ser baixo. Outras instituições financeiras apresentam cenários otimistas mais prováveis, mas, em compensação, colocam limites ao rendimento máximo que tornam os depósitos indexados menos atraentes para os aforradores. Em todos os casos, na altura da subscrição, trata-se sempre de cenários e de probabilidades. Para que compense o risco de ter um rendimento baixo num depósito complexo, o valor esperado dos juros para o subscritor tem de, pelo menos, superar os melhores depósitos a prazos com maturidades idênticas. Além disso, é preciso ter em conta o risco que cada aforrador está disposto a correr.
O risco não é apenas de perda de capital (que nos depósitos não está em causa, mesmo que sejam complexos), mas também o risco de perda de rendimento. Ao não receber juros durante um período de tempo, assume-se uma perda que é equivalente aos juros que poderia estar a receber noutro investimento, nomeadamente num depósito tradicional.
Dos 30 depósitos analisados pela PROTESTE INVESTE durante 2013, apenas 5 mereceram um conselho de subscrição condicionado: "condicionado" pois era apenas para quem compreendesse e aceitasse o risco inerente. Em todos eles, este risco traduzia-se uma probabilidade de cerca de 50% de não vir a receber qualquer juro. Como o rendimento máximo era atrativo e tinha uma probabilidade de ocorrência não negligenciável era expectável que, em média, estes produtos pudessem superar o rendimento de produtos alternativos.
Tal como os restantes depósitos tradicionais, os depósitos complexos estão abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. A proteção é de 100 mil euros por titular e por banco. Por isso, se já tiver outros depósitos na instituição financeira, garanta que a soma não ultrapassa este limite por titular.
Maus resultados
Durante o ano de 2013, 55 depósitos indexados ou duais venceram. O Banco de Portugal, no portal do cliente bancário (acessível na internet em clientebancario.bportugal.pt), publica as rentabilidades brutas que estes depósitos deram aos subscritores.
Cerca de 35% dos depósitos complexos atingiram um rendimento nulo ou um rendimento mínimo garantido próximo de zero. Menos de 10% do total proporcionaram um rendimento anual líquido superior a 5%.
Nos depósitos com maturidade superior a 1 ano, a média da rentabilidade anual líquida foi de apenas 1,7%. Este valor é inferior às taxas de juro dos melhores depósitos simples oferecidos pelos bancos na altura da subscrição dos produtos. Isto comprova que, em média, o investimento nos depósitos complexos não compensa, mas podem existir produtos que venham a dar bom rendimento.
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8 cuidados a ter antes de subscrever
Na maioria das vezes, os depósitos complexos não merecem o seu dinheiro
1. Exija sempre o prospeto informativo do produto e leia-o com muita atenção.
2. Veja se entende a fórmula de cálculo e não hesite em questionar o banco, de preferência por escrito, sobre qualquer dúvida que tenha.
3. No prospeto informativo encontra uma simulação das rentabilidades com base em dados passados. Ainda que este não seja o melhor método, fica com uma noção do risco que incorre.
4. As rentabilidades apresentadas pelos bancos não são líquidas de impostos e eventuais comissões cobradas.
5. Verifique se o depósito tem a possibilidade de mobilização antecipada. É importante sobretudo para prazos mais alargados.
6. Nos produtos de prazos inferiores a um ano, não se deixe iludir por taxas de juro elevadas. Na prática, o ganho poderá ser baixo pois o rendimento diz respeito a um prazo muito curto.
7. Se for subscritor da PROTESTE INVESTE, pode enviar o prospeto informativo para o serviço de Avaliação a Pedido (na internet em deco.proteste.pt/investe
/avaliacao) para obter a análise do produto com base em expectativas e não em valores passados.
8. Compare com os depósitos a prazo tradicionais. Na maioria dos casos a incerteza dos ganhos nos complexos não compensa.
fonte:http://www.jornaldenegocios.pt/e