Investidores já retiraram 2.380 milhões dos fundos portugueses
Desde o início do ano que os resgates dos fundos nacionais tem sido muito superior ao das subscrições.
Há 18 meses consecutivos que os investidores têm chumbado os fundos de investimento nacionais. Segundo o relatório mensal da associação do sector (APFIPP), publicado esta semana, desde Março do ano passado que o saldo das subscrições líquidas dos quase 300 fundos de investimento portugueses compilados pela APFIPP tem apresentado um valor negativo. Neste período, os investidores retiraram 5.516 milhões de euros dos fundos mobiliários, sendo que, só este ano, o saldo das subscrições líquidas é já de -2.380 milhões de euros.
Em Setembro o cenário não foi diferente: o saldo líquido das subscrições no último mês contabilizou -320 milhões de euros, contribuindo para que o valor sob gestão dos fundos mobiliários portugueses registasse uma queda de 5,77% face a Agosto, a quarta maior correcção mensal desde, pelo menos, Dezembro de 2006 (período desde o qual a APFIPP disponibiliza dados).
Este movimento não é apenas explicado pelo mau momento dos mercados bolsistas, que este ano tem sido marcado por uma desvalorização de 10% das acções mundiais e pela constante pressão sobre as obrigações soberanas de alguns países da zona euro. O "emagrecimento" da indústria de fundos de investimento nacional nos últimos tempos tem sido, também, da responsabilidade dos próprios bancos, que a braços com dificuldades de financiamento têm vindo a aumentar os juros dos depósitos a prazo para cativarem, não apenas novos recursos, mas também o dinheiro dos seus até aqui clientes aplicados em fundos.
Sinal desta realidade é expressa quer pela subida dos depósitos, que em Agosto atingiram os 11,2 mil milhões de euros - o valor mais elevado dos últimos três anos - quer pela variação dos fundos de tesouraria e dos fundos do mercado monetário: segundo os dados da APFIPP, esta classe de activos de baixo risco tem menos 50% do dinheiro sob gestão que em Dezembro de 2010 e menos 88% face aos activos sob gestão no começo da crise financeira, em meados de 2007. No último mês, o volume de activos sob gestão nestes fundos atingiu os 934 milhões de euros, o valor mais baixo desde, pelo menos, Dezembro de 2006, apesar do número de fundos desta classe se manter praticamente inalterado.
Fundos reduzem liquidez das carteiras
O relatório mensal de Setembro da APFIPP revela também que os gestores dos fundos portugueses aproveitaram o último mês para irem às compras, uma vez que a generalidade dos fundos reduziu a alocação da sua carteira em depósitos e numerário (liquidez). Segundo o documento, os fundos mobiliários reduziram em 1,3 pontos percentuais a sua exposição a activos de liquidez entre Agosto e Setembro. Os fundos poupança reforma, por exemplo, passaram de uma alocação de 9,8% da sua carteira em depósitos e numerário, em Agosto, para 7% no final de Setembro. Este movimento pode ser encarado como um optimismo dos gestores, que estarão a preparar as suas carteiras para uma recuperação dos mercados. Aliás, é isso que se tem verificado no PSI 20: desde Janeiro de 2006, sempre que a exposição mensal dos fundos portugueses em activos de tesouraria caiu 1%, o principal índice accionista da Euronext Lisboa valorizou, em média, 0,51%.
Fundos que apresentam subscrições liquidas positivas em 2011
1 - Mercado monetário euro
Os fundos de investimento da categoria "mercado monetário euro" são os que apresentam o segundo saldo de subscrições líquidas mais elevadas este ano. Estes fundos apresentam um perfil de risco muito baixo, dada a sua exposição a activos como depósitos a prazo, papel comercial e bilhetes do Tesouro. As apostas neste tipo de fundos são feitas, habitualmente, por investidores menos propensos ao risco e cuja disponibilidade é para fazer investimentos inferiores a um ano. Os dados da APFIPP revelam que o saldo líquido de subscrições atingiu os 6,6 milhões de euros, desde Dezembro. A alocação do portefólio esteve concentrada sobretudo na liquidez em numerários e depósitos (86%) e nas aplicações de curto prazo (14,7%), nomeadamente em bilhetes do Tesouro, certificados de depósitos e emissões de papel comercial.
2 - Misto predominantemente de obrigações
Os fundos mistos predominantemente de obrigações continuam a merecer a confiança dos investidores nacionais: desde Dezembro que o saldo líquido de subscrições soma 2,4 milhões de euros. Este valor é sustentado por um volume de subscrições 1,5 vezes superior ao dos resgates, neste período. Segundo o relatório de Setembro da APFIPP, desde o início do ano, o volume de subscrições é de 7,3 milhões de euros que comparam com os 4,9 milhões de euros de resgates neste período. No entanto, no último dia de Setembro, os activos sob gestão atingiram os 25,9 milhões de euros, menos 2,7% face ao valor apresentado em Agosto. Ao nível da estratégia de investimento destes fundos, destaque para uma alocação bastante concentrada do portefólio em apenas dois activos: obrigações soberanas e corporativas da zona euro (45%), e unidades de participação de fundos de investimento internacionais (18,5%).
3 - Misto predominantemente de acções
A classe de fundos mistos predominantemente de acções fechou Setembro com um saldo de subscrições líquidas de 1,6 milhões de euros. Das quatro categorias que fugiram à razia dos investidores, esta foi aquela que apresentou o saldo mais reduzido, em resultado das subscrições no valor de 16,8 milhões de euros terem sido quase equivalentes aos resgates realizados. Ao contrário da categoria anterior, estes fundos fazem jus ao nome que carregam ("mistos"), dado que o seu portefólio está diversificado por diferentes activos. Segundo os dados da APFIPP, estes fundos apresentavam em Setembro uma alocação de 24,5% em acções, 34,5% em obrigações diversas cotadas em euros, 15,2% em títulos de dívida e instrumentos financeiros equiparados. No final do mês passado, os activos sob gestão destes fundos atingiam os 38 milhões de euros, -14,5% face a Agosto.
4 - Obrigações de taxa fixa euro
O interesse dos investidores pelo mercado de dívida está novamente a crescer. Isto apesar da contínua tensão em redor da crise da dívida soberana da zona euro. Sinal disso mesmo é a evolução do saldo líquido de subscrições dos fundos de obrigações de taxa fixa , que se fixou em 31,7 milhões de euros, entre Dezembro de 2010 e Setembro de 2011. Segundo o relatório de Setembro da APFIPP, o volume de subscrições atingiu os 110 milhões de euros, um valor que compara com os 79 milhões de euros de resgates durante o mesmo período. Os gestores destes fundos centram as suas apostas, maioritariamente, em obrigações de empresas e de Estados da zona euro, sendo recomendado um investimento não inferior a três anos. Em Setembro, o portefólio destes fundos esteve focada em apenas dois activos: títulos de dívida pública (46,9%) e obrigações diversas (48,6%).
fonte:http://economico.sapo.pt/