Famílias só poupam 93 cêntimos em cada 10 euros que ganham
Por cada 10 euros que as famílias ganham, só conseguem poupar 93 cêntimos, mostram os dados do Instituto Nacional de Estatística.
Construir um ‘pé-de-meia' já tem sido uma tarefa difícil, mas para o próximo ano a pressão sobre o orçamento mensal ainda vai aumentar.
São os preços que sobem, é o desemprego que bate à porta, é a factura dos impostos que não tem fim. As razões para poupar cada vez menos são muitas e as contas não perdoam. Em Junho a taxa de poupança das famílias caiu para 9,3% do rendimento disponível, o valor mais baixo dos últimos dois anos. O mesmo é dizer que em cada 10 euros ganhos, há menos de um euro que é colocado de parte.
Nestas contas inclui-se a amortização, por exemplo, de empréstimos à habitação - uma espécie de poupança forçada a que muitas famílias estão obrigadas. Porque se o cálculo for feito apenas à poupança financeira líquida - ou seja, ao valor que é colocado de parte em depósitos ou outros investimentos financeiros e que é mais facilmente mobilizado em caso de necessidade - o cenário é ainda mais negro: por cada 10 euros, poupam-se 13 cêntimos.
Ainda assim, o desígnio nacional continua a ser poupar.
Depois dos economistas e do Governo terem já apelado à poupança por parte das famílias, empresas e Estado, até o Presidente da República fez eco deste imperativo. "A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança e na contenção de gastos desmesurados", defendeu Cavaco Silva, no discurso dos 101 anos da Proclamação da República.
Porém, tudo indica que em 2012 as famílias vão poupar ainda menos. "Vai existir menos rendimento disponível", garante Rui Constantino, economista-chefe do departamento de research do Santander. "Mesmo que se mantivesse a mesma taxa de poupança, em termos absolutos o volume será mais baixo", explica.
É que as medidas de austeridade estão por todo o lado e é difícil encontrar o caminho que resguarde os rendimentos mensais. Desde logo, o mercado de trabalho vai continuar a degradar-se. O Governo espera que a taxa de desemprego aumente para 13,4% e conta com uma destruição líquida de postos de trabalho de 1%. Estas famílias terão ainda de contar com subsídios de desemprego mais baixos e atribuídos por menos tempo.
Para quem mantém o posto de trabalho, os salários deverão, na melhor das hipóteses, estabilizar. Do lado das empresas a diminuição da procura interna e a escassez do crédito bancário obriga à maior contenção de custos possível. Já para os funcionários públicos é certo que descem: quem recebe acima de um salário mínimo por mês (485 euros) perde, em média, um subsídio de férias, ou de Natal. E quem ganha mais de mil euros perde os dois. As contas são as mesmas para todos os pensionistas, sejam do sector público ou privado.
A juntar a estes factores soma-se ainda o aumento dos impostos. As deduções no IRS vão diminuir e o imposto total que será pago ao Estado aumenta. Além disso, há fortes subidas na carga fiscal sobre o património e o consumo. Basta ver que o Estado vai arrecadar mais de dois mil milhões de euros por esta via. Por fim, há ainda a erosão dos rendimentos provocada pelo aumento dos preços. Por um lado, esta subida justifica-se pela subida do IVA para muitos produtos, mas por outro há também o impacto do aumento dos preços dos combustíveis.
A única forma de manter a poupança é diminuir fortemente o consumo, um comportamento que tanto os economistas, como o Governo esperam. No próximo ano o consumo privado deve recuar 4,8%. De qualquer modo, resta saber qual será o efeito mais forte: se a queda do consumo, se a diminuição dos rendimentos.
fonte:http://economico.sapo.pt/