Portugueses tiraram 11 milhões por dia dos certificados em 2011
O ano passado foi o pior de sempre em termos de subscrições líquidas de Certificados de Aforro.
Aquela que durante décadas foi uma das aplicações preferidas dos aforradores portugueses foi alvo de uma "sangria" no ano passado. De acordo com o último boletim Mensal do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, em 2011, os Certificados de Aforro perderam, em termos líquidos, 4,087 mil milhões de euros. Tratou-se da maior retirada de sempre de dinheiro deste produto de poupança do Estado. Em média, saíram 11,2 milhões de euros, por dia, dos Certificados de Aforro.
Esta fuga vai bastante além das metas previstas pelo Orçamento do Estado para 2011. Concretamente, é mais de oito vezes a saída líquida de 500 milhões de euros inicialmente antecipada e um valor que fica em linha com o encaixe previsto já no Orçamento do Estado para 2012. Neste documento está estimado o resgate líquido de 4.080 milhões de euros deste produto de poupança em 2011.
Para 2012, o Orçamento do Estado antecipa que os Certificados de Aforro continuem a perder dinheiro. A expectativa é de que durante este ano os resgates líquidos atinjam 1,5 mil milhões de euros, mitigando ainda mais uma importante fonte de financiamento do Estado. Quando a série C foi lançada no início de 2008, os Certificados de Aforro representavam 16% do financiamento estatal. Actualmente, representam menos de metade desse valor: 6,5%.
Nem mesmo os Certificados do Tesouro conseguem escapar intactos à perda do interesse dos investidores. Apesar destes serem pautados por subscrições líquidas positivas desde o seu lançamento, em Julho de 2010, incentivadas pela remuneração atractiva em prazos mais longos, o certo é que o ritmo de captação tem vindo a decrescer nos últimos meses.
Contudo, no caso dos Certificados de Aforro, a saída de dinheiro não é uma tendência recente. Recorde-se que, em 2010, os resgates líquidos se tinham cifrado em 1,4 mil milhões de euros. Aliás, desde que o Governo alterou as regras da nova série C, em Março de 2009, que o saldo mensal de subscrições de Certificados de Aforro é negativo (33 meses consecutivos).
Confrontado com a perda de interesse dos aforradores portugueses por esse produto, o IGCP remeteu o nosso pedido de explicações para a Secretaria de Estado do Tesouro, sendo que até à hora de fecho desta edição não havia chegado uma resposta da governante.
Vale a pena investir?
Parte da explicação para a fuga de dinheiro dos Certificados de Aforro resulta da sua remuneração não compensar face a outros produtos de poupança com nível de risco semelhante. Nomeadamente, os depósitos a prazo. Em termos líquidos, a taxa de juro que está a ser oferecida em Janeiro nas subscrições de Certificados de Aforro é de 1,089%. Este valor é bastante inferior à rentabilidade líquida oferecida por um grande número de depósitos a prazo. Aliás, segundo os dados do Banco de Portugal, a remuneração média dos novos depósitos era de 3,64%, em Novembro. Ou seja, mais do dobro dos 1,452% que estão a ser oferecidos pelo produto de poupança do Estado. E as perspectivas apontam para que a remuneração ainda possa baixar mais, tendo em conta a tendência de queda das taxas Euribor. Os futuros sobre a Euribor a três meses para final de 2012 estão a transaccionar nos 0,765%, abaixo dos 1,168% a que a Euribor a três meses (indexante utilizado no cálculo da remuneração dos Certificados de Aforro) cotava na última sessão.
Para além disso, o efeito corrosivo da inflação também elimina o retorno deste produto. Recorde-se que para este ano, o Banco de Portugal prevê que a taxa de inflação se situe nos 3,2%.
fonte:http://economico.sapo.pt/