Produtos anti-crise para fazer face à austeridade
Multiplicam-se os produtos financeiros lançados pelos bancos para fazer face à austeridade. Conheça as mais recentes apostas da banca.
Se dúvidas existissem de que o país está em crise, bastariam apenas 10 minutos à frente de um computador a navegar pelos sites dos bancos para que todas as dúvidas se dissipassem. As campanhas dos bancos são um espelho da economia do país e um reflexo da preocupação das famílias.
Apesar da instabilidade assombrar os mercados desde o final de 2007, os efeitos da crise apenas começaram a reflectir-se de forma mais séria desde 2010. Desde então, a banca tem vindo a reestruturar a sua oferta de produtos, mas este fenómeno acentuou-se nos últimos meses com a comercialização de produtos e serviços bancários com um denominador comum: o de facilitarem a vida dos clientes na actual conjuntura.
O Diário Económico analisou alguns dos produtos destacados nos sites de 14 bancos a operar em Portugal e encontrou dezenas de soluções financeiras anti-crise. Um dos fenómenos mais recentes é a comercialização de depósitos que antecipam o pagamento dos juros. Ou seja, os clientes não têm de esperar pelo fim do prazo para receber os juros, já que estes são creditados na conta à ordem no dia seguinte à sua subscrição. Para as famílias esta facilidade pode ser uma benesse (já que permite antecipar um rendimento futuro e canalizá-lo para outros fins), para os bancos esta solução é também vantajosa já que permite reter as poupanças dos clientes durante um período definido. É que este tipo de depósitos não permite, naturalmente, a mobilização antecipada do capital.
Mas há mais sinais de que a banca se está a adaptar aos novos tempos. Numa altura em que a poupança das famílias diminui- por via do aumento do desemprego, menor do rendimento disponível e aumento dos impostos- as instituições começaram a exigir montantes de investimento mais reduzidos para os seus clientes. Em algumas situações é possível abrir uma conta-poupança por 10 euros e, em outros casos (BPI,) é possível fazer reforços a partir de um euro por mês. Valores que mostram não só como o sector financeiro está a ir de encontro ao tamanho reduzido das carteiras dos portugueses, mas também reflectem a preocupação dos bancos em conseguirem captar todas as poupanças, mesmo as mais irrisórias, das famílias. E não é difícil perceber os motivos dessa preocupação. Pressionados para cumprir com as medidas da Troika, que prevêem a necessidade de baixar os rácios de desalavancagem para 120% até 2014, as instituições estão a disputar a captação de recursos de famílias e empresas. Talvez, por essa mesma razão, há bancos que seduzem os clientes com brindes como Ipads ou consolas de jogos. E neste capítulo, o Banco Popular tem sido uma das instituições que mais tem apostado neste tipo de campanhas.
Sinal dos tempos, proliferam também nos sites dos bancos os programas de literacia financeira e as ferramentas que ajudam a planear os orçamentos familiares. Da mesma forma, são várias as instituições que têm cartões de crédito com a modalidade de ‘cashback'. Ou seja, devolvem ao cliente uma parcela das compras efectuadas com estes cartões. A CGD, a Unicre, o Santander Totta e BES são exemplos de instituições que disponibilizam cartões com esta facilidade. Além destes cartões, alguns bancos estimulam a poupança automática através de um sistema de arredondamento de pagamentos, em que o valor excedente reverte para uma conta-poupança.
Apesar de cada banco escolher a sua própria estratégia para operar durante a crise, há um denominador comum a todas as instituições: todas elas têm o seu foco no tema da poupança.
Depósitos que oferecem juros na subscrição do produto
1 - É uma situação completamente inédita na banca portuguesa: há cada vez mais instituições financeiras a comercializar depósitos a prazo com a particularidade de oferecerem aos clientes os juros devidos no dia seguinte à subscrição da aplicação. Mas como em tudo na vida, também aqui "não há almoços grátis". Esta facilidade tem uma contrapartida: ao aderir a um depósito com estas características, o aforrador fica impedido de mobilizar, parcial ou totalmente, o dinheiro ali aplicado. Só no fim de vida do depósito é que o cliente poderá levantar o seu capital. O banco best foi o primeiro a comercializar depósitos com estas características mas vários bancos seguiram o exemplo. O Diário Económico encontrou quatro depósitos com estas características. O Best tem o depósito a três meses com uma TANB de 5,5% e que é exclusivo para novos clientes e para montantes superiores a 2.500 euros. Já o BCP tem o Depósito Já, um produto para montantes superiores a 1.000 euros, que pode ser constituído por vários prazos ( três, seis ou 12 meses) e que oferece uma TANB que pode ir até aos 4,5%. Também o BES tem um produto semelhante. O depósito online DP BES Juros na Hora tem uma remuneração que pode chegar até aos 4% de TANB, pode ser constituído por montantes a partir de 500 euros e por um período de três ou seis meses. Esta semana foi a vez do Banif também aderir à moda dos depósitos que antecipam o pagamento de juros. Numa campanha promocional que termina hoje, o banco liderado por Joaquim Marques dos Santos disponibiliza o Depósito Rendimento Imediato. Este produto oferece um juro anual bruto de 6% para uma aplicação a seis meses com um mínimo de investimento de 2.500 euros.
Poupanças para montantes reduzidos
2 - Em tempos de crise, todos os tostões são valiosos para os bancos e para as famílias. Cientes de que os portugueses estão a reduzir drasticamente a sua capacidade de poupar, as instituições financeiras começam cada vez mais a comercializar soluções de poupança que exigem montantes mínimos de constituição muito baixos (entre 10 e 25 euros) e que ao mesmo tempo implicam reforços de investimento em valores quase irrisórios. É o que acontece por exemplo com o BPI. As contas-poupança deste banco por exemplo, podem ser constituídas por um montante mínimo de 25 euros e com reforços mensais a partir de um euro. O fenómeno não é exclusivo do BPI. Também o BES tem a Conta Poupança Dez, uma aplicação que pode ser constituída a um, três, cinco e 10 anos, e que não tem um valor mínimo de abertura. Tem a particularidade de permitir entregas (mensais ou pontuais) a partir de 10 euros. O BPN também comercializa um produto de poupança para quem tem poupanças reduzidas: o Nano-Micro DP é um depósito a três, seis ou 12 meses com um montante mínimo de investimento de 100 euros e com reforços (mensais ou pontuais) a partir de 25 euros. Já o Banif tem uma conta poupança com um valor mínimo de constituição de 250 euros e reforços (mensais ou pontuais) a partir de 25 euros.
Seguros de protecção contra o desemprego
3 - O aumento do desemprego, associado às medidas de austeridade que têm sido implementadas, levaram a uma subida do número de famílias que deixam de pagar os seus créditos ao banco e a outras instituições financeiras. Por isso mesmo, os seguros de protecção de crédito tornaram-se comuns e triviais para quem tem um crédito à habitação. No entanto, o Barclays acaba de lançar no mercado um seguro de protecção contra o desemprego e doença que se destina a ser accionado para ajudar os segurados a pagar as suas despesas pessoais do dia-a-dia, como a conta da luz e da água, ou mesmo o colégio dos filhos. Este seguro, lançado na semana passada, assegura o pagamento das despesas pessoais em caso de desemprego ou doença em montantes máximos que variam entre os 250 e os 750 euros por mês (consoante o salário auferido). A contratação desta apólice é possível por um valor a partir de 9,76 euros por mês. Além desta apólice recente, vários bancos (como BES, Santander Totta e Millennium BCP) disponibilizam também seguros de protecção de ordenado. Estes planos asseguram o pagamento de uma percentagem do salário do cliente, caso este entre numa situação de desemprego involuntário. Segundo uma análise recente do Jornal de Negócios, o custo mensal destas apólices varia entre os 4,53 euros e os 8,5 euros.
Contas ordenado anti-crise
4 - A campanha publicitária "Ordenado Anti-Crise" do Millennium bcp mostra num cartaz um homem a apertar o cinto e noutro, um executivo impecavelmente vestido e calçado que enfrenta um problema: as calças estão demasiado curtas. Imagens com as quais muitos portugueses se identificam. E porque grandes problemas exigem soluções à medida, a conta ordenado anti-crise do BCP quer ajudar os clientes a enfrentar melhor a crise. Além das comuns vantagens associadas a uma tradicional conta-ordenado (como a isenção da comissão de gestão de conta) tem uma benesse: promete devolver 10% das despesas da água, luz e gás até a um valor máximo de 10 euros por mês, até 31 de Dezembro de 2012. Mas para ter acesso a esta facilidade terá de cumprir com uma série de requisitos: como a domiciliação do salário ou pensão (pela primeira vez) no valor igual ou superior a 500 euros por mês; a domiciliação de pagamentos da água, luz, ou gás e a constituição de um depósito a prazo no valor igual ou superior a mil euros.
Programas de arredondamentos
5 - Levar as pessoas a pouparem, mesmo sem darem por isso. É esse o objectivo de alguns programas de arredondamentos criados recentemente pela banca portuguesa, nomeadamente, pelo BES e pela CGD. A ideia é simples: ao aderir a um destes programas, o cliente sabe que se efectuar pagamentos ou movimentos de conta, o valor dessas transacções será imediatamente arredondado. Sendo que o valor remanescente é automaticamente convertido para uma conta poupança. O banco liderado por Ricardo Salgado, por exemplo, tem a Micro Poupança. Esta solução permite aos clientes da instituição arredondar pagamentos (como a prestação da casa, as compras de supermercado ou o carregamento do telemóvel) feitos na conta à ordem. O cliente pode escolher o valor dos arredondamentos aplicados a cada um dos movimentos de conta que sejam efectuados, sendo que esses arredondamentos podem ser feitos em múltiplos de um, dois, cinco ou dez euros. Por exemplo, imagine que o valor da prestação da casa é de 362 euros, se optar pelo arredondamento em múltiplos de 10 euros, ser-lhe-á retirado da sua conta à ordem um total de 370 euros, sendo que desse valor, 8 euros serão creditados numa conta poupança. Também a CGD tem um programa com características semelhantes. O PAP-Programa de Poupança Automática- tem várias facilidades, sendo que uma delas é a possibilidade de fazer arredondamentos com compras efectuadas com os cartões de crédito da CGD. Os clientes poderão escolher uma das três formas de arredondamento disponibilizadas.
Pacotes de serviços financeiros
6 - Os bancos estão a copiar os hipermercados. As corriqueiras campanhas do "Leve dois, pague um" também já invadiram o sector financeiro. São cada vez mais os bancos que apostam na comercialização de "pacotes" de serviços que estão sujeitos a uma única comissão mensal- que pode variar entre os 4 e os 8 euros. Estes cabazes incluem além de uma conta ordem, a subscrição de seguros, cartões de débito e de crédito, cheques gratuitos, algumas transferências gratuitas. Poderão ainda dar alguma bonificação na contratação de um crédito à habitação, como acontece na "Solução Dia-a-Dia" do Barclays. As instituições garantem que assim os consumidores conseguem poupar alguns euros com comissões, já que ficará mais barato subscrever o cabaz de produtos financeiros ao invés de contratar cada um dos serviços de forma individualizada. No entanto, convém fazer as contas para ver se compensa a contratação destes cabazes, porque poderá estar a subscrever produtos que não necessita. Entre as instituições que comercializam produtos com estas características estão o Millennium BCP (Cliente frequente), o Barclays (Solução Dia-a-Dia), o Popular (Conta Extra Ordenado) e o Montepio (Solução Consigo, Solução Valor, Solução Viva).
fonte:http://economico.sapo.pt/