Obrigações da Semapa rendem pouco mais que um depósito a prazo
Investir nas obrigações da Semapa é um bom investimento apenas para montantes superiores a cinco mil euros.
A Semapa está a recrutar novos credores. Tal como a EDP fez em Novembro do ano passado, agora é a vez da ‘holding' de Pedro Queiroz Pereira recorrer aos pequenos investidores para se financiar. E para os convencer, a Semapa - que controla 51% da cimenteira Secil e 78% da Portucel - compromete-se a pagar 6,85% durante três anos por via de dois cupões anuais de seis em seis meses.
À primeira vista, as "Obrigações Semapa 2012/2015" parecem ser um produto bastante interessante para os pequenos investidores. Porém, "nem tudo o que reluz é ouro", e neste caso isso também é verdade. Não por culpa da Semapa, que por cada 1.000 euros investidos paga 205,50 euros. Mas por culpa das comissões bancárias cobradas pelo intermediário financeiro e dos impostos cobrados pelo Fisco: na prática, quando contabilizadas as "fatias" do Fisco e do banco associadas a esta emissão, a compra das obrigações da Semapa traduz-se num investimento com uma taxa interna de retorno (TIR) anual média entre 0,09% e 4,81%, dependendo do montante investido e do intermediário financeiro utilizado.
Por exemplo, um investimento de 1.000 euros (valor mínimo permitido) realizado junto de um dos dois colocadores desta emissão (Barclays e Banco BPI), por um investidor sem activos bolsistas no seu portefólio, traduz-se numa TIR de 0,09% ou num ganho líquido acumulado de apenas 10,45 euros nos próximos três anos, quando a Semapa pagou 205,50 euros. Isto significa que, neste caso, 85% do dinheiro pago pela companhia de Queiroz Pereira vai directo para o bolso do Fisco e do intermediário financeiro, ficando o investidor com uma ninharia.
Para se ter uma ideia da importância das comissões bancárias e da tributação aplicada sobre os juros pagos, 1.000 euros aplicados nestas obrigações em alguns intermediários financeiros podem até traduzir-se em perdas para os investidores. É isso que sucede, por exemplo, se o investidor recorrer ao Barclays para aplicar 1.000 euros nestas obrigações: como além da tributação fiscal de 25% sobre os juros, que ficam no cofre das Finanças, o banco cobra uma comissão de guarda de títulos trimestral de 10,46 euros (8,5 euros mais IVA), uma comissão mínima sobre eventos corporativos (comissão de subscrição) de 5,20 euros (5 euros mais imposto de selo), uma comissão mínima sobre reembolso de 6,15 euros (5 euros mais IVA) e uma comissão mínima sobre juros também de 6,15 euros (5 euros mais IVA), o investidor terminará com perdas líquidas de 19,59 euros, o equivalente a uma TIR de -0,64%.
No entanto, é importante salientar que a proporção entre ganhos do investidor, banco e Estado vai gradualmente beneficiando o investidor à medida que o montante de investimento for aumentando. Todavia, dificilmente um investimento inferior a 5.000 euros nestas obrigações se revela uma solução mais rentável face a um depósito a prazo. O Banco Big e a Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, estão a comercializar depósitos a três anos com taxas anuais efectivas líquidas (TAEL) de 3,19%, e o PrivatBank remunera actualmente os depósitos a prazo a três anos com uma TAEL de 4,13%.
Além dos depósitos, também não passará despercebido dos pequenos investidores as obrigações do Tesouro (OT) da República. De acordo com dados do Boletim de Cotações da Euronext Lisbon, as OT que vencem em 2015 estão a cotar com um desconto de 31,5%, conferindo uma rendibilidade média anual bruta de 15%. A questão que os investidores terão de colocar é se emprestar dinheiro ao Estado português é ou não mais arriscado que à Semapa. O mercado diz que sim.
Ficha técnica
- Prazo da oferta: Entre 1 de Março de 2012 e 27 de Março de 2012.
- Prazo do investimento: Três anos.
- Data de vencimento: 30 de Março de 2015.
- Juros: O pagamento dos juros das obrigações será realizado semestralmente a 30 de Março e 30 de Setembro de cada ano.
- Subscrição: A partir, e em múltiplos, de 1.000 euros.
- Taxa de juro: Taxa anual nominal bruta de 6,85%.
- Rendibilidade: Em termos líquidos de impostos e comissões, o investimento traduz-se numa taxa interna de retorno (TIR) anual entre 0,09% e 4,81%, dependendo do montante investido e do intermediário financeiro escolhido.
- Admissão: As obrigações serão admitidas à negociação na Euronext Lisboa.
fonte:http://economico.sapo.pt/