Especialistas aconselham fundos e obrigações na poupança para a reforma
A crise e o corte dos benefícios fiscais associados aos PPR estão a mudar as prioridades dos portugueses na poupança para a reforma.
Existem perto de três milhões de portugueses com PPR, segundo os dados do Instituto de Seguros de Portugal, e mais de 8.000 com Certificados de Reforma. Desde que foram lançados, os Planos de Poupança Reforma sempre foram o produto de eleição dos portugueses para constituírem complementos de poupança com vista à velhice. Mas a crise está a mudar esta realidade. No ano passado, os portugueses aplicaram menos 2,1 mil milhões de euros em PPR sob a forma de seguro, os PPR sob a forma de fundos de investimento também enfrentaram resgates líquidos severos ( na ordem dos 198 milhões) e mesmo os Certificados de Reforma perderam, pela primeira vez, investidores. O facto de os portugueses terem hoje menor disponibilidade para poupar, devido à quebra do rendimento disponível, associado ao facto de o Governo ter procedido a um corte abrupto dos benefícios fiscais associados aos produtos financeiros para a reforma está a levar os portugueses canalizarem menos poupanças para este objectivo. A estes factores há que acrescentar ainda um outro: a maior concorrência, do ponto de vista da rentabilidade, de outras aplicações, como é o caso dos depósitos. Recorde-se que, segundo os últimos dados do Banco de Portugal, relativos a Janeiro, as taxas de juro médias oferecidas para os novos depósitos rondavam os 3,87%. São valores muito competitivos face à rentabilidade oferecida pelos PPR. Segundo os dados do Instituto de Seguros de Portugal, relativos a 2010- os dados mais recentes - apenas seis PPR sob a forma de seguro conseguiram obter, no passado, esta taxa.
"Houve um esforço da banca para canalizar as poupanças que eram de longo prazo para produtos de curto prazo. Penso que esta estratégia é penalizadora a diversos níveis. Por um lado é penalizadora para o sector segurador que claramente sai desta crise como sendo um sector secundário para os grupos bancários. Mas é também penalizadora para os consumidores. Porque as poupanças de longo prazo devem ser canalizadas para produtos de longo prazo e não para depósitos. Não são os depósitos que resolvem o problema da sustentabilidade das poupanças para a reforma", assegura Diogo Teixeira, administrador da Optimize.
Para António Ribeiro, economista da Deco, "há um sério risco de os portugueses começarem a descurar as suas poupanças para a reforma". Mas para o responsável, a poupança não tem de passar necessariamente pela aplicação nos tradicionais PPR. "Faz sentido procurar hoje um produto com maior liquidez e uma rendibilidade potencial superior", explica. Esta é, aliás, a opinião consensual dos vários especialistas contactados pelo Diário Económico. Fonte da direcção de gestão de activos do Banco BiG refere mesmo: "A poupança com vista à reforma não tem de ser realizada através de produtos com esse nome. No caso dos nossos clientes, os depósitos a prazo, as contas aforro e obrigações têm sido a forma mais procurada nos últimos meses". Também os especialistas do Best partilham a mesma visão. "A poupança para a reforma não se faz apenas através de PPR e Certificados de Reforma, com a concorrência de outro tipo de instrumentos a ser agora mais relevante, por exemplo: os actuais níveis de ‘yield' face ao risco percebido pelo cliente parecem ser suficientemente compensadores para atrair novos investidores para o mercado obrigacionista", refere Diogo Serras Lopes, director de investimento do banco online. Apesar de defender que os PPR sob a forma de fundo de investimento são "o veículo indicado para a reforma por estarem organizados do ponto de vista jurídico e fiscal de forma a favorecerem as poupanças de longo prazo", Diogo Teixeira explica que há outras alternativas para este efeito. "É preferível investir num bom fundo de investimento misto, do que num mau PPR". O mesmo responsável afirma ainda que para alguns investidores- aqueles que acreditam que o Estado português vai cumprir com todos os seus compromissos- também poderá fazer sentido "incluir obrigações do Tesouro de mais curto prazo numa carteira para a reforma".
As obrigações do Tesouro portuguesas são também uma das apostas da Deco. A associação de defesa dos consumidores recomenda a preparação para a reforma - dependendo da idade e dos montantes disponíveis para investir-através da aplicação numa carteira diversificada de acções, ou de fundos de investimento. Caso os investidores tenham montantes muito reduzidos para aplicar, a solução poderá passar pelo investimento num único fundo misto, ou em Certificados do Tesouro. O investimento directo em obrigações do tesouro portuguesas é também uma opção atractiva para António Ribeiro, já que actualmente a remuneração anual de uma obrigação do tesouro a quatro anos ronda os 13,5%.
Independentemente da forma usada pelos portugueses para constituírem complementos de poupança com vista à velhice, todos concordam que é fundamental dinamizar este tipo de poupanças. "Sendo difícil para a globalidade dos portugueses pensar no que será o seu futuro daqui a 20 ou 30 anos, o estímulo para poupar para a reforma tem que ser suportado em benefícios que os portugueses percepcionem claramente", sublinha fonte da direcção de marketing do ActivoBank. E se esses estímulos não são dados pelo Estado (através dos benefícios fiscais aos PPR), eventualmente as próprias empresas poderão fazê-lo junto dos seus funcionários. "Por exemplo, se o colaborador optar por iniciar um plano de poupança para a reforma, através da dedução mensal de uma parcela do seu ordenado, a empresa para a qual trabalha poderia completar a entrega mensal do colaborador com um valor adicional , usufruindo esta empresa depois de algum tipo de benefício atribuído pelo Estado português", sugere fonte do ActivoBank.
fonte:http://economico.sapo.pt/