Aprenda a navegar no universo dos dividendos
Os dividendos são numa oportunidade de ouro para os investidores serem accionistas de uma empresa a preço de “saldos”.
Para colmatar grande parte das perdas geradas pelo mau desempenho das acções em bolsa, muitos investidores adoptam uma estratégia de "caça aos dividendos". Isto é: compram as acções de uma empresa um dia antes da data em que os títulos perdem o direito ao dividendo (‘ex-dividend'), ficando assim com o direito de receberem uma parte dos lucros gerados no ano passado, que serão distribuídos sob a forma de dividendos.
O resultado desta estratégia traduz-se em perdas mais leves e ganhos mais avultados no portefólio dos investidores. No entanto, este ano, a estratégia revela-se mais complicada de surtir efeitos na carteira dos pequenos investidores. Tudo porque o Orçamento do Estado para 2012 anunciou um agravamento fiscal sobre os dividendos distribuídos pelas empresas este ano: se até então os dividendos recebidos pelos pequenos investidores eram sujeitos a uma taxa de imposto de 21,5%, em 2012 o Fisco ficará com 25% dos lucros distribuídos sob a forma de dividendos.
Isto significa que os investidores que comprarem hoje acções da Brisa- uma das empresas mais generosas da praça portuguesa e que está a negociar com uma taxa de dividendos de 12%- vão, na prática, ter um ganho líquido de impostos com os dividendos de, no máximo, 9%. Mas a conta não fica por aqui. É preciso ainda subtrair as comissões do intermediário financeiro sobre dividendos, que segundo um trabalho recente da Deco poderá ir até 2,5%. Assim, e aplicando esta comissão a 10 mil euros investidos na Brisa com vista a seguir a estratégia de "caça aos dividendos" significa um ganho líquido de impostos e comissões de 877,5 euros e não de 1.200 euros. O diferencial entre as duas quantias (343 euros) irá assim para o cofre das Finanças e do intermediário financeiro.
Dividendos para investidores de longo prazo
O impacto dos dividendos numa carteira de investimentos é bastante relevante. Segundo Jeremy Siegel, "de 1871 a 2003, 97% dos ganhos acumulados do investimento em acções, depois de lhe descontar a inflação, veio da capitalização dos dividendos", escreveu o professor de Finanças na Universidade da Pensilvânia no seu livro "The future for investors". Em Lisboa, o peso dos dividendos é igualmente notório: na última década, por exemplo, o PSI 20 acumula perdas de 29% porém, quando adicionado os dividendos distribuídos pelas empresas, a rendibilidade do principal índice da Euronext Lisboa contabiliza ganhos de 1,64%.
A estratégia da "caça aos dividendos" é talvez a mais popular entre os investidores que procuram "capturar" o valor dos dividendos. Porém, com a subida da tributação torna-se mais complicado ganhar com esta estratégia. Isto porque, no dia de ‘ex-dividend', a acção abre a um preço descontado do dividendo bruto pago pela companhia. Para o investidor, esta relação não teria qualquer influência na carteira caso o valor do dividendo fosse também contabilizado na sua conta pelo valor bruto. Algo que não acontece porque o Fisco aplica uma taxa de tributação de 25% sobre esse montante e os intermediários financeiros cobram também uma comissão sobre estas operações. Significa que os investidores que pretendam entrar num título com o objectivo único de obterem um rendimento no curto prazo, na prática, estarão a ter uma ilusão de ganhos que é absorvida pelos efeitos da tributação e das comissões dos bancos.
Porém, para os investidores de longo prazo que estejam mais interessados em comprar acções com desconto esta é uma oportunidade de ouro. Para isso, devem comprar os títulos no dia de ‘ex-dividend'. Desta forma, estarão a perder o direito ao dividendo mas a comprar as acções a um preço mais baixo que no dia anterior.
fonte:http://economico.sapo.pt/