Saiba porque há mais investidores a olhar para a arte
Em 2012, várias obras de arte atingiram valores recorde em leilões internacionais e nacionais.
O mercado de arte está ao rubro. Desde o início do ano, registaram-se vários recordes em leilões não só das principais leiloeiras internacionais como também lusas. No início de Maio, uma das versões de "O Grito" de Edvard Munch foi adquirida num leilão da Sotheby's em Nova Iorque por 120 milhões de dólares (98 milhões de euros), tornando-se a obra mais cara de sempre a ser adquirida em leilão. Poucos dias depois, num evento da Christie's também se fez história. O quadro "Laranja, Vermelho, Amarelo", do norte-americano de ascendência russa Mark Rothko foi vendido em Nova Iorque por 86,9 milhões de dólares (70,9 milhões de euros), o que representa um novo recorde para uma obra de arte contemporânea alguma vez vendida em leilão. Os números comprovam os bons resultados que têm sido atingidos em alguns leilões internacionais. A Christie's anunciou esta semana que, nos primeiros seis meses de 2012, as suas vendas a nível global totalizaram 2,2 mil milhões de libras (2,8 mil milhões de euros), o que representa um aumento de 13% face ao período homólogo.
"Existe um crescente apetite a nível mundial pela arte e o mercado está a passar por um grande momento", explicou ao Diário Económico, Pedro Girão, presidente do Christie's European Advisory Board. Acrescentado que "os recordes de preços não são apenas uma consequência da actual situação do mercado e da qualidade dos trabalhos que estão a ser oferecidos, mas também demonstram que os leilões continuam a ser uma das melhores plataformas para disponibilizar grandes obras de arte". Já Iain Robertson, do Sotheby's Institute of Art, confrontado pela possibilidade de estarmos perante uma nova bolha no mercado de arte, lembra que os recentes recordes dizem respeito a um universo muito específico da arte. "São peças de arte raras, daquele que é o sector do mercado mais procurado - designadamente, a arte moderna. Os preços muito altos estão confinados a muito poucos ‘troféus' desconectados do resto do mercado", esclarece. Aliás, peças de menor destaque nem têm muitas vezes encontrado comprador nos leilões. Por sua vez Luís Castelo Lopes, administrador do Palácio do Correio Velho (PCV), lembra o papel preponderante que as obras de autores chineses têm assumido no mercado de arte. "A pintura artística e de pintura que combina com caligrafia chinesa posterior ao séc. XII reúnem obras fabulosas que atingem valores astronómicos no mercado local e que não chegam sequer ao mercado internacional", explica Luís Castelo Lopes.
O que aconteceu no ano passado confirma, de facto, o domínio da China no mercado de arte. Segundo dados da ArtPrice, a China conquistou uma quota de 41% do mercado mundial de arte em 2011, sendo que seis entre o top 10 de obras mais caras vendidas eram de artistas chineses. A China, conjuntamente com o Qatar, o Sudeste Asiático e os Estados Unidos são, segundo Iain Robertson, os principais destinos das peças mais caras. "Existem fundos de arte na China que estão a comprar de uma forma activa, bem como indivíduos ricos e chefes de Estado", refere este especialista. Ainda segundo o estudo "Art & Finance Report 2011" apresentado no final de 2011 pela Deloitte e pela ArtTactic, só no ano passado surgiram na China 25 novos fundos de investimento em arte, o valor mais alto de sempre. Também a edição de 2012 do "Relatório sobre a Riqueza Mundial", publicada em Junho pela Capgemini e pelo RBC Wealth Management, atesta que, devido à crise económica e financeira global, o interesse dos mais ricos pelo investimento em arte - sobretudo das fortunas dos mercados emergentes - é cada vez maior. "Prevê-se que o interesse de compra continue forte em diversas categorias, conforme os investidores procurem diversificar as suas posições, sobretudo quando é difícil conseguir bons retornos em produtos financeiros", explica o relatório em relação às perspectivas para o segmento do investimento em arte. Ainda assim, são aconselhadas algumas cautelas. Até porque, apesar dos recordes que têm sido atingidos em alguns leilões, em 2012, a arte ainda não conseguiu bater os mercados financeiros. No primeiro semestre deste ano, o índice de arte Mei Moses que segue os resultados dos eventos das principais leiloeiras mundiais apresentou uma performance inferior à do índice bolsista S&P 500: 0,02% contra 9%.
E o mercado português?
Apesar da realidade do mercado de arte português ser muito mais modesta, também se têm verificado algumas surpresas agradáveis. Em Maio, por exemplo, num evento do PCV, foi a leilão um raro leque de ouro e esmaltes do séc. XIX que foi arrematado por 210 mil euros, o que representa uma valorização de 10.400% face aos 2.000 euros de base de licitação. Trata-se, aliás, do segundo exemplar com características semelhantes mais caro de sempre vendido em leilão. Também em Maio, num leilão da Cabral Moncada foi estabelecido outro recorde. Uma salva de prata dourada portuguesa de finais do séc. XV foi vendida por 310 mil euros, mais do que triplicando a base de licitação. Com esse valor foi estabelecido um recorde nacional para um exemplar desta natureza.
Como explica Luís Castelo Lopes, administrador do PCV, os recordes que têm sido estabelecidos não podem ser generalizados mas confirma que "existe uma série de pessoas a olhar para a arte numa perspectiva de investimento". Uma tendência que segundo este especialista se torna mais notória nos últimos tempos. Contudo, Luís Castelo Lopes faz questão de lembrar que para fazer qualquer investimento é preciso comprar correctamente e não "embarcar" na primeira oportunidade. "Quem quer pensar em aplicar o seu dinheiro em obras de arte deve comprar o que gosta, deve informar-se, nunca comprar numa época alta e estar preparado para ficar com a peça durante vários anos". Para alcançar um retorno positivo do seu investimento, é aconselhável esperar pelo menos entre 10 e 15 anos até vender. Nas caixas ao lado são apresentadas sugestões de algumas áreas que podem resultar num "porto seguro" para os amantes da arte.
Arte a ter de baixo de olho
Arte internacional
Em termos internacionais, Iain Robertson aconselha apostar em arte dos mercados emergentes pelo facto do nível de preços inicial ser baixo. O mobiliário inglês, a pintura moderna britânica e os tapetes persas, segundo este especialista representam mercados subavaliados. Entre os investimentos com maior potencial de retorno, Iain Robertson inclui ainda os selos britânicos e da Commonweath como uma boa aposta de longo prazo. Os artefactos japoneses são outra das suas recomendações.
Pintura portuguesa
De acordo com Luís Castelo Lopes, na pintura portuguesa existem vários valores que podem ser considerados como "portos seguros" para quem pretenda coleccionar ou investir em arte. Para além das obras da mundialmente conceituada Paula Rego, este responsável do Palácio do Correio Velho nomeia também nomes da arte lusa como Júlio Pomar, Almada Negreiros, Júlio Resende ou Dórdio Gomes entre as apostas mais seguras.
Prata
Luís Castelo Lopes, refere que depois dos objectos em ouro terem brilhado durante todo o ano passado e na primeira metade deste ano devido à alta do metal precioso nos mercados internacionais, agora é a vez da prata reflectir mais brilho. Segundo o administrador da leiloeira da Calçada do Combro, "a prata tem-se mantido relativamente estável ou mesmo subido ligeiramente". Os objectos em prata do final do século XIX e século XX estão entre os que se vendem melhor.
Objectos decorativos
Esta é uma das áreas que, segundo Luís Castelo Lopes, se tem vendido bastante bem. A responsabilidade por esta tendência deve-se ao facto de que existem muitas pessoas a decorar as suas casas recorrendo a este tipo de peças que encontram nos eventos das leiloeiras. A porcelana chinesa é também uma das áreas que ao longo dos anos também se tem apresentado como um investimento seguro.
Conselhos a reter
- Aproxime-se do mercado: Investir em arte exige informação. Antes de comprar pesquise a história da peça, quem a executou, a sua época e estado de conservação. E não tenha medo de perguntar, mas não sempre aos mesmos.
- Não compre pela assinatura: Comprar uma obra de um artista consagrado não é suficiente para garantir que se vai valorizar. Os artistas também têm trabalhos de inferior qualidade e passam por fases menos boas.
- Fuja das modas: Ciclicamente, certo tipo de obras de arte são alvo de uma maior procura, o que tem como efeito a escalada dos preços. Uma das áreas em que é necessário mais cautela é a arte contemporânea, já que é mais susceptível à especulação.
- Invista para o longo prazo: Quanto mais tempo passar, maiores as garantias de uma peça se valorizar. Deve-se esperar pelo menos dez a 15 anos antes de vender.
fonte:http://economico.sapo.pt/