Saiba porque deve ter cuidado ao investir em acções da banca
A banca europeia continua a ser penalizada com a crise da dívida soberana e com perspectivas pouco optimistas.
Dificilmente os banqueiros se recordam de um período da História tão complicado para o sector como o actual: os negócios realizados no mercado interbancário são quase uma miragem, com a desconfiança entre bancos a persistir, a dependência dos bancos do Sul da Europa junto do BCE está em valores recorde, a rendibilidade dos capitais próprios dos bancos europeus nunca foi tão baixa e a cotação das acções está, novamente, em queda livre. Ultimamente, tudo têm sido más notícias para as contas dos bancos e quanto se pensa que o pior já terá passado, explode uma nova "bomba".
O estado da banca europeia quase que podia ser descrito pela Lei de Murphy: "quando as coisas estão mal, só têm tendência para piorar". Nem mesmo depois de Bruxelas ter aprovado, a 10 de Maio, o mega-fundo de 750 mil milhões de euros para salvar as economias da zona euro mais frágeis, deixou os investidores menos nervosos acerca da dívida soberana e em redor dos bancos que detêm esses títulos. "Os bancos dos países do Sul da Europa têm elevados níveis de endividamento face ao PIB dos respectivos países e com carteiras de crédito com níveis de incumprimento a aumentar. Além disso, uma boa parte deles depende da ajuda do BCE para se financiar e terá necessariamente que reduzir a alavancagem, aumentar as taxas de depósito e aumentar o custo do crédito concedido", refere João Pereira Leite, director de investimentos do Banco Carregosa.
Com este quadro desenhado, não restam muitas dúvidas de que, nos próximos anos, as margens e a rendibilidade dos bancos vão estar sob enorme pressão. Actualmente, a rendibilidade dos capitais próprios dos 52 maiores bancos da Europa Ocidental é de 6,4%, quando nos últimos cinco anos esse rácio era de 14,2%, e as acções estão a cotar a um preço de 15,9 vezes os lucros gerados nos últimos 12 meses por acção, quando no último quinquénio esse valor estava nas 16,5 vezes.
As boas excepções da banca
Andrew Lynch, gestor do fundo de acções europeias Schroder EURO Dynamic Growth, considera que continua a haver "bons e maus bancos" e que "o problema está em encontrar os bons bancos, que estão a ser penalizados pela crise actual sem justificação". Actualmente, a maior fatia do portefólio do fundo de Lynch está alocado no sector financeiro, com destaque para os bancos franceses BNP Paribas e Société Générale por "parecerem ser sólidos", justifica o gestor, frisando ainda que está "confiante em alguns mas não em todos os bancos". Já o gestor do fundo de acções do sector financeiro Millennium Eurofinanceiras, no comentário mensal do mês de Outubro, revelou que "continua positivo relativamente ao sector bancário". O fundo regista uma rendibilidade acumulada de -43% nos últimos cinco anos e actualmente tem como principais posições as apostas no HSBC, Allianz e Banco Santander.
Nas carteiras dos fundos de investimento nacionais a aposta principal dos gestores continua a ser o brasileiro Bradesco que, em Outubro, de acordo com dados da CMVM, acumulou um valor total de investimento de 342 milhões de euros de investimento dos fundos portugueses. Na segunda e terceira posição figura o BES e o BCP com um montante total de investimento, no mês passado, de 175,8 milhões de euros e 38,9 milhões de euros, respectivamente.
Duarte Caldas ressalva os nomes do Banco Santander, BNP Paribas e Deutsche Bank como excepções ao turbilhão da banca, visto tratarem-se de "bancos de primeira linha, que não estarão tão dependentes do ‘funding' do BCE, apresentarem uma forte diversificação e balanços sólidos, mas que também foram prejudicados por esta conjuntura das financeiras, do nosso ponto de vista erradamente."
Na última edição da revista norte-americana "Esquire", Ken Kurson, um dos jornalistas com maior experiência no mundo das Finanças, escreveu que "é doloroso recomendar acções de bancos" neste momento, dando como exemplos alguns bancos norte-americanos. Contudo, Kurson, que aposta num rali dos mercados para breve, não deixa de referir que o colossal ‘know-how' de engenharia financeira e conhecimento concentrado nos bancos "faz com que estejam bem posicionados para beneficiar do próximo ‘bull market'".
fonte:economico