O Económico foi à procura dos 11 fundos de investimento que nos últimos dois anos mais golos marcaram a favor dos investidores.
Como se faz um campeão? A esta pergunta, Cristiano Ronaldo poderia responder: com muito trabalho, uma dose elevada de auto-estima, perseverança e um grau de lucidez acima da média para tomar as decisões correctas no momento chave. A receita para se produzir um campeão dentro dos relvados é, em parte, semelhante à receita necessária para fabricar um campeão dos mercados. Saber tomar as decisões certas nos momentos exactos, sem se deixar envolver pelas emoções, é um factor crítico de sucesso no mundo financeiro. Desde que a crise da dívida soberana se instalou na Europa, no início de 2010, o medo, a desconfiança e a incerteza tomaram conta de todos os agentes do mercado. As ‘yields' das obrigações da dívida pública dispararam e as bolsas afundaram. O Eurostoxx 50, que reúne as 50 maiores empresas europeias, perdeu desde essa altura 27,9%. Já o comportamento do PSI 20 foi ainda mais negro: desvalorizou 46% desde o início de 2010. Mas nem tudo correu mal.
Alguns gestores de fundos conseguiram, mesmo em ambiente adverso, gerar ganhos aos investidores. Por isso mesmo, e aproveitando o facto de estar a decorrer o Campeonato Europeu de Futebol, o Diário Económico dá-lhe a conhecer qual foi a selecção vencedora dos mercados financeiros desde Janeiro de 2010, salientando os 11 fundos de investimento que desde então geraram rentabilidades mais elevadas e melhor driblaram a crise.
Estes 11 "craques" estão disponíveis para comercialização em Portugal e geraram ganhos acumulados quase sempre superiores a 50%, segundo dados fornecidos pela Morningstar. Nesta lista de convocados, há vários dados que sobressaem: os melhores fundos foram aqueles que apostaram em acções da Tailândia ou do sector da indústria do luxo, ou ainda em títulos do sector da biotecnologia. Por exemplo, no conjunto dos 11 fundos, três deles investem exclusivamente na Tailândia, e um outro fundo tem uma exposição considerável a este mercado. Neste campo, o Fidelity Thailand A USD é aquele que mais se destaca, ao ter registado ganhos de 82% em dois anos e cinco meses. O facto das acções tailandesas terem gerado ganhos tão elevados tem uma explicação: "A bolsa tailandesa apresentou um desempenho bem acima de outras bolsas. Para o período indicado, o S&P500 subiu pouco mais de 20% enquanto a bolsa tailandesa subiu mais de 70%. Esta performance, de uma perspectiva macroeconómica, pode ser explicada pelo dinamismo da economia, com o FMI a estimar um crescimento do PIB superior a 5% nos próximos dois anos, com dinamismo da procura interna", justificou ao Diário Económico, fonte do banco best.
Surpreendente é também o destaque e o bom desempenho que os fundos que operam na indústria de luxo tiveram. No conjunto dos 11 craques dos fundos de investimento há três fundos (um do Credit Suisse, outro do ING e um terceiro da Pictet) que apostam em títulos de empresas que produzem e comercializam bens e serviços ‘premium'. O facto é ainda mais interessante quando contextualizado com o débil ambiente económico que se vive na Europa. Apesar da conjuntura adversa, as empresas deste sector não estão a ressentir-se. Fonte da direcção de investimentos do Best explica porquê: "Tem a ver com o facto de este tipo de empresas ter conseguido crescer as suas vendas especialmente nos mercados emergentes (aumento da classe média que se quer destacar com o acesso a marcas de prestígio), tendo um desempenho superior quando comparado com empresas que produzem outro tipo de bens".
Na lista dos 11 convocados há ainda um outro dado a salientar: quase todos fundos têm uma exposição reduzida aos activos da zona euro. A excepção a este padrão é atribuída ao fundo MFS Meridian European Small Companies. Este fundo conseguiu gerar ganhos acumulados aos investidores na ordem dos 48, sendo que está totalmente investido em acções europeias. Ainda assim, e possivelmente para reduzir o risco da carteira, o fundo tem privilegiado os títulos do Reino Unido - que têm um peso de 51% no portfólio.
No entanto, e apesar dos ganhos exuberantes que esta selecção de 11 fundos proporcionou nos últimos dois anos, tal não significa que os investidores devam ir a correr subscrevê-los. A teoria e o bom senso dizem que " os ganhos passados não são garantia de retornos futuros". Além disso, muitos destes fundos são altamente voláteis e têm uma classificação de risco elevada. Como tal, não são adequados a todos os investidores.
"As carteiras de investimentos devem ser diversificadas, preferencialmente por regiões, sectores e temas de investimento, com as percentagens a alocar entre activos de maior e menor risco a depender do perfil do investidor. Numa carteira equilibrada, para um horizonte de longo prazo, a percentagem alocada a temas de investimento cujo objectivo seja incrementar o retorno e risco esperado do portfólio como um todo não deverá superar os 10%. ", recomenda a direcção de investimentos do banco Best.
Fundos portugueses lideram as perdas
Além de olhar para os campeões dos mercados, é também altura para fazer as contas e ver quem foram os grandes derrotados da indústria de fundos de investimento desde 2010. Segundo os dados da Morningstar, a lista dos 11 piores fundos de investimento vendidos no nosso mercado é composta exclusivamente por fundos portugueses, sendo que a maioria deles investe em acções portuguesas. Estes 11 fundos obtiveram nos últimos dois anos rendibilidades negativas acumuladas que variaram entre os -48% e os -58%. Neste retrato dos mercados Portugal não saiu bem na fotografia. Esperemos que nos relvados da Polónia e da Ucrânia Portugal se saia melhor....
Os melhores e os piores sectores
- Entre Janeiro de 2010 e 31 de Maio de 2012, estas foram as categorias de fundos que melhor desempenho registaram segundo a Morningstar:
*Acções Tailândia: 67,83%
*Imobiliário (indirecto) da América do Norte: 44,21%
*Acções da Indonésia: 38,6%
*Acções da Malásia: 36,84%
*Matérias Primas(metais preciosos): 31,20%.
- Entre Janeiro de 2010 e 31 de Maio de 2012, estas foram as categorias de fundos que pior desempenho registaram segundo a Morningstar:
*Acções Grécia: -73,16%
*Acções Espanha:-45,87%
*Acções do sector de energia alternativa: -39,77%
*Acções Itália: -38,99%
*Matérias Primas (outras): 27,81%
Os 11 titulares da melhor selecção de fundos
1 - Fidelity Thailand A-USD
Este fundo da Fidelity tem sido uma espécie de ‘ponta de lança' da indústria de fundos de investimento. Desde Janeiro de 2010 até ao final do mês de Maio entregou ganhos acumulados de 82,3% aos investidores. Cerca de 95% do seu portfólio está aplicado em acções, estando o restante alocado em liquidez. No início de Maio, o fundo estava investido em 61 acções, sendo a Ptt Public Company Limited, empresa pública do sector de energia, aquela que mais peso tem no portfólio.
2 - Amundi Funds Equity Thailand AU-C
À semelhança do fundo anterior, este produto da Amundi também aposta em acções tailandesas. Nos últimos dois anos e meio obteve um desempenho acumulado de 76%. Também aqui a Ptt Public Company Limited é a acção com maior peso no portfólio. Mas os activos deste fundo estão dispersos por muito menos títulos. O sector financeiro e o imobiliário são aqueles com maior peso.
3 - CSEF(Lux) Global Prestige B
Este fundo merece quatro estrelas segundo o ‘rating' da Morningstar. Ele investe pelo menos dois terços dos seus activos em títulos de empresas ligadas à indústria do luxo. Nos últimos três anos tem gerado ganhos de forma consecutiva. No total, desde Janeiro de 2010, o fundo obteve um desempenho acumulado de 73,6%. Acções como a Christian Dior, a Rémy Cointreau Consumer, a Estée Lauder e a Hermès International estão entre as maiores posições do fundo.
4 - DWS Biotech-Aktien Typ O
O fundo da gestora alemã destaca-se nos ganhos proporcionados nos últimos anos: desde Janeiro de 2010 já valorizou 71,7%. Esta aplicação investe em acções de empresas que operam no sector da biotecnologia, sendo que 90% do portfólio está alocado em títulos dos EUA. No ‘top ten' das participações estão empresas como a Regeneron Pharmaceuticals, a Alexion Pharmaceuticals, ou a Gilead Sciences.
5 - JF ASEAN Equity A (acc)- Eur
Os mercados asiáticos voltam a protagonizar os ganhos mais expressivos. Este fundo da JP Morgan investe sobretudo em acções de empresas do Sudeste Asiático, que engloba países como Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura ou Indonésia. Os títulos do sector financeiro e de materiais são aqueles que têm um maior peso. A empresa de Singapura Keppel Corporation (industrial) era no início de Maio a maior posição do fundo. Em dois anos e cinco meses valorizou mais de 56%.
6 - ING (L) Invest Prestige & Luxe P Acc
O bom momento de vendas que a indústria do luxo vive, mesmo apesar da crise, leva este fundo do ING a figurar na lista dos 11 melhores fundos desde o início da crise soberana. Obteve desde Janeiro de 2010 uma performance de 54,8%. O fundo investe em acções de empresas que operam
na área de bens de consumo ‘premium'. Daí, não é de espantar que títulos como a Richemont, a Tiffany ou a Moet Hennessy Louis Vuitton (LVMH) estejam no ‘top ten' das suas participações, de acordo com dados do primeiro trimestre. Cerca de 40% do portfólio está aplicado em títulos da zona Euro.
7 - BNPPL1 Equity World Consumer Durables
Este fundo do BNP Paribas, que merece três estrelas segundo a Morningstar, figura também na selecção dos melhores fundos ao registar ganhos desde 2010 na ordem dos 54,42%. Apesar de ser um fundo global, quase 60% do portfólio estava alocado nos EUA no final do primeiro trimestre. A exposição aos títulos da Europa era então muito diminuta (13%). Na altura, o site de compras online Amazon era a posição mais relevante, seguida pela Comcast Corporation (a maior empresa de televisão por cabo nos EUA) e pela Starbucks.
8 - Pictet Premium Brands- I Eur
Este fundo da Pictet é mais um bom exemplo de como a indústria do luxo não enfrenta a crise. O Pictet Premium Brands acumula ganhos de 53,9% desde 2010. E, analisando a performance num período mais reduzido, os números também são positivos: desde o início do ano, o fundo avança 9,3%. Dois terços do portfólio estão aplicados em acções de empresas que produzem artigos "topo de gama". No ‘top ten' das suas participações estão empresas como a Diageo (uma das maiores empresas mundiais produtoras de bebidas alcoólicas), a LVMH, a Pernod-Ricard, a Swatch, a Nike ou a Christian Dior.
9 - Templeton Thailand A ACC $
Pelo nome não é difícil perceber de onde é que vieram os 52% de ganhos gerados por este fundo desde Janeiro de 2010. Este produto da Templeton aposta em acções tailandesas, tendo os títulos financeiros um peso muito relevante no portfólio (43%). Desta forma, não é de estranhar que as três maiores posições do fundo pertençam a três instituições financeiras. São elas: o Siam Commercial Bank Public Company, o Kasikornbank Public Company e o Bangkok Bank.
10 - Franklin Biotechnology Discovery A ACC $
O número 10 desta selecção de craques da indústria de fundos de investimento pertence a este fundo de biotecnologia da Franklin Templeton. Nos últimos dois anos e meio entregou aos investidores ganhos acumulados de 49% e a Morningstar atribui-lhe um ‘rating' de quatro estrelas. Investe sobretudo em títulos de empresas que operam nos EUA (que pesa mais de 90% do portfolio). A Celgene Corporation Healthcare, a Gilead Sciences e a Biogen Idec estavam, no final do primeiro trimestre, no pódio das maiores posições deste fundo.
11 - MFS Meridian European Smaller Companies A1 Eur
A completar a lista dos convocados desta selecção surge este fundo que merece a avaliação máxima da Morningstar: cinco estrelas. E não é difícil perceber porquê: nos últimos dois anos e meio entregou aos investidores ganhos acumulados de 48%. Um feito relevante tendo em conta que este fundo investe exclusivamente em acções europeias- as mais castigadas pela crise. As suas maiores posições estão em empresas do Reino Unido, alemãs e francesas.
Trabalho publicado na edição de 8 de Junho de 2012 do Diário Económico