Alta de longo prazo do metal reflectiu-se nas carteiras de muitos investidores nos últimos anos. Porém, o brilho poderá eclipsar-se.
A segunda metade de Setembro provou que o ouro, embora seja negociado como valor-refúgio por muitos investidores, não está isento de quedas. Nessa quinzena, o preço do metal, listado nas bolsas internacionais em dólares norte-americanos, desceu cerca de 10%. Foi o pior registo para o ouro desde 1983. Esta evolução mostra que o ouro não é necessariamente um investimento seguro.
Foi a raridade do ouro que o tornou num valor-refúgio: permitia armazenar riqueza e comprar bens em períodos instáveis (fome, peste, guerra). Embora tenha deixado de ser usado nas transacções quotidianas, o metal precioso continua a ser uma referência durante as épocas de crise, como na actual instabilidade do sector financeiro e da dívida pública.
A oferta de "novo" ouro, que poderia atenuar a sua raridade, é lenta porque a descoberta e exploração de minas é um processo longo. O crescimento de mercados como a China e, sobretudo, a Índia contribuiu para o aumento da procura para efeitos industriais. Pela negativa, o ouro pode ser penalizado por uma mudança na percepção dos investidores, como aconteceu em Setembro. Os investidores podem, por exemplo, optar pela dívida pública de países mais sólidos, cujas taxas de juro começam a ser mais interessantes.
Valor-refúgio que se pode especular
Muitos vêem no ouro a forma ideal de protegerem as suas poupanças. Embora seja altamente improvável a falência do Estado português, o abandono do euro ou o colapso do sistema financeiro, os mais pessimistas podem comprar ouro para proteger o património de eventuais catástrofes. Se quer ter o ouro "à mão", deve comprar barras, libras de ouro ou peças de ourivesaria. O valor do ouro físico evolui próximo da cotação internacional do mercado. Quando o ouro cota a 1.700 dólares por onça (equivale a 31,1 gramas) e um euro vale 1,34 dólares, o ouro vale 40,79 euros por grama (1700 ÷ 31,10 ÷ 1,34). Assim, uma pequena barra de ouro de dez gramas terá um valor de mercado aproximado de 408 euros.
Tenha cuidado com o local e o preço do ouro onde fizer a aquisição. Há enormes diferenças nos valores de compra e venda por parte dos bancos e de outras entidades até de simples barras de ouro, onde nem existe um valor subjectivo, como no caso das peças de ourivesaria. Pode comprar facilmente uma barra de dez gramas e vendê-la no próprio dia, mas perder mais de 20%. Atenção: apesar do recente recuo, a subida do valor do ouro ao longo dos últimos anos tem sido imparável porque, além da procura da indústria da ourivesaria, os investidores procuram-no como valor-refúgio. Adquirir ouro é uma salvaguarda para momentos de crise muito grave, mas a compra de objectos de ouro não garante um futuro dourado. Os ganhos ou perdas dependem da diferença entre o valor da venda e o valor da compra.
O valor do ouro é definido pelos mercados financeiros em função da procura e da oferta. Por isso, os investidores mais ousados podem especular sobre a subida ou sobre a descida do preço do metal no curto e no médio prazo. As formas de aplicar indirectamente em ouro mais acessíveis aos pequenos investidores são os fundos de investimento, ‘exchange-traded funds' (ETF) e ‘warrants'. Face ao elevadíssimo risco de perda do dinheiro investido, não deverá dedicar mais de 5% das poupanças a este tipo de produtos financeiros.
Apostar na tendência de subida
Existem fundos de acções que se dedicam exclusivamente a investir em empresas ligadas ao sector aurífero, sobretudo empresas mineiras. O valor destes fundos depende do comportamento em bolsa das empresas. Se a cotação sobe, o fundo valoriza. Se desce, o fundo vale menos.
A relação do fundo com o valor do ouro é indirecta. Uma valorização do metal dourado implica maiores lucros para a extracção mineira, mas há outros factores inerentes ao funcionamento específico de cada empresa. Nem todas são geridas do mesmo modo ou obtêm a mesma rentabilidade. Os fundos podem ser subscritos ou resgatados junto de um banco, embora poucas entidades comercializem fundos especializados em ouro.
Actualmente, a Proteste Investe acompanha os fundos BGF World Gold E (disponível no ActivoBank, Banco Best e Millennium bcp) e DWS Invest Gold and Precious Metals NC (Banco Best). Os especialistas da Proteste Investe não recomendam para investimento de longo prazo mas, se quiser especular sobre a subida do ouro, pode comprar.
Para uma relação mais directa entre a cotação internacional do ouro e o valor da sua aposta, opte pelos ETF. Por exemplo, um ETF sobre o ouro ganha aproximadamente 1% se o preço do ouro subir 1%. Para replicar o valor do ouro, os ETF detêm uma carteira de investimentos, tal como os fundos tradicionais. No caso do ouro, incluem produtos derivados ou até mesmo ouro físico.
Os ETF são transaccionados em bolsa, mas não estão disponíveis na Euronext Lisboa. Só pode transaccionar ETF através de bancos ou corretoras que actuem em mercados estrangeiros e que permitam o acesso aos segmentos dedicados a estes instrumentos financeiros.
Os ETF seguem de perto a cotação do ouro, não existindo diferenças relevantes entre o preço de compra e o de venda em bolsa. Se comprar o ETF de manhã e vender à tarde, o lucro ou a perda será muito próximo da variação do ouro durante esse período.
Multiplique os ganhos
Os mais ousados podem apostar em produtos financeiros derivados, cujo valor amplifica a evolução de uma variável financeira. Neste caso, interessam aqueles que dependem da cotação do ouro e incluem a palavra "gold" na designação.
Os mais conhecidos são os ‘call warrants' sobre o ouro, cujo valor sobe quando a cotação do ouro aumenta, mas de forma alavancada. Uma variação de 15 dólares na cotação do metal pode, por exemplo, implicar um ganho ou perda de 150 euros ou mais. Em pouco tempo, o investidor pode multiplicar o capital investido ou perder todo o dinheiro.
A compra e venda de ‘warrants' ocorre na Euronext Lisboa à semelhança das acções nacionais. É preciso ter conta junto de um banco ou corretor e acompanhar diariamente o investimento. Os ‘warrants' têm um prazo de tempo limitado que, no máximo, é de alguns meses.
Há medida que se aproxima da data de vencimento, valor do ‘warrant' desce. Se o palpite do investidor não for acertado, é possível que ele não tenha tempo para esperar que as condições de mercado mudem. No limite, pode perder todo o dinheiro.
Além dos ‘call warrants', há também ETF alavancados sobre o ouro, identificados por palavras como "ultra", "leveraged" e "2x", que multiplicam várias vezes os ganhos (ou perdas) do investidor. A diferença reside no facto de os ETF não terem prazo definido e de a amplitude das oscilações ser mais definida (por exemplo, duas vezes). Existem ainda produtos financeiros que variam de forma inversa à do ouro. Se antecipa uma queda, pode comprar ETF sobre ouro com a designação "short" ou "reverse". No mercado dos ‘warrants', opte pela compra de um ‘put warrant' sobre o ouro.
Investimento sem garantias de rentabilidade
O preço do ouro varia em função das condições de mercado, isto é, da oferta e da procura. Aplicar no metal dourado não assegura qualquer rentabilidade, nem garante o dinheiro nele investido. O ouro físico e os produtos financeiros relacionados com o ouro não geram rendimentos ao longo do tempo. Os mais pessimistas podem comprar ouro físico (jóias e barras) para proteger o seu património.
Embora o preço evolua próximo da cotação de mercado, é habitual existir uma grande diferença entre o preço de compra e o de venda por parte dos bancos e de outras entidades. Pode comprar facilmente uma barra e vendê-la no próprio dia, mas provavelmente perderá mais de 20%.
Se optar por especular sobre o ouro tem à disposição fundos, ETF e ‘warrants'. Pode multiplicar os ganhos e as perdas e até obter ganhos quando a cotação do ouro desce.
Mas antes de avançar com a decisão de investimento nestes produtos, siga durante algum tempo o comportamento da cotação do ouro e familiarize-se com o funcionamento
dos vários instrumentos financeiros.
Caso contrário, poderá ter surpresas desagradáveis.
fonte:http://economico.sapo.pt/n