Conheça as ideias dos bancos de investimento e gestoras de fundos sobre onde encontrar boas rendibilidades num contexto de incerteza nos mercados financeiros.
1. Aposte num emergente que sobe há quatro anos
É um fã de viagens para destinos exóticos? E que tal enviar também parte das suas poupanças para um desses destinos? A bolsa das Filipinas está a subir há quatro anos consecutivos. Em 2012, está a subir 22%, e a gestora de activos Pictet aposta que, pelas suas características singulares, o potencial de valorização deste mercado emergente está longe de estar esgotado.
A Pictet aposta numa selecção das acções mais líquidas e com maior capitalização, em sectores como os bens de consumo, imobiliário e operadores de supermercados e centros comerciais. Até os operadores de casinos podem ser uma aposta capaz de dar frutos graças à crescente popularidade sobretudo entre os turistas chineses, salienta a Pictet.
O que torna este mercado emergente tão promissor, diz a gestora de fundos, parte desde logo da "situação demográfica excelente", com 50% dos 95 milhões de habitantes com idade inferior a 25 anos. Além disso, o país tem uma taxa de poupança superior a 30%, que é uma garantia para a estabilidade das contas do Estado e que está a criar uma "enorme expansão" da procura interna por bens e serviços, assinala a gestora de activos. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu cerca de 6% no segundo trimestre, com uma preponderância crescente para o consumo interno. "Um crescimento interno que irá contrabalançar o abrandamento global", diz a Pictet, acerca deste país.
"O sucesso das Filipinas na criação de um crescimento gerado internamente não tem passado despercebido nos mercados", assinala a Pictet. O índice PCMOP subiu 63% em 2009, 37,6% em 2010, 4,1% em 2011 e sobe 22,8% este ano. "No entanto, acreditamos que o mercado ainda representa bom valor, com o índice a transaccionar com um rácio preço-resultados (PER) de 13 vezes. Continuamos ‘overweight’", diz a Pictet.
A dependência do preço do petróleo e das demais matérias-primas é menor do que em outros países da região, sendo esse um dos cuidados mais importantes a ter quando se investe nos mercados emergentes. Outro factor a ter em conta é o câmbio, mas é possível investir em instrumentos que protejam contra este factor. Ainda assim, o peso tem-se mantido relativamente estável face ao euro e ao dólar nos últimos anos, algo a que ajudará a recente subida de "rating" por parte da agência S&P, para o mesmo nível de Portugal.
2. Arriscar nas acções europeiasA crise da Zona Euro aproxima-se do terceiro aniversário e no horizonte continuam a existir pontos de interrogação que recomendam cautela. Um dos factores que geram maior preocupação para quem investe em acções é o facto de a Zona Euro estar em recessão.
Os últimos dados mostram que a recessão é uma realidade, ainda que seja difícil antecipar quão duradoura e profunda será. Os indicadores típicos não têm sido animadores, mas há um indicador que tem dado um bom augúrio: os índices accionistas. O Stoxx 600 dispara 16% desde os mínimos tocados no início de Junho.
O PSI-20 voltou este mês a negociar com ganhos no ano depois de ter estado a cair mais de 22% em Julho, antes de Mario Draghi injectar optimismo nos mercados com a promessa de salvar o euro. O Citigroup, que tem mantido uma posição mais pessimista desde o início da crise na Zona Euro, mantém que "a Europa Continental é uma das regiões para as quais estamos menos optimistas neste momento.
A recessão ainda não terminou e os nossos economistas não prevêem um regresso ao crescimento nos próximos tempos". Mais optimista, a Allianz aposta numa carteira que equilibre acções defensivas e cíclicas, com aposta nas acções ligadas à saúde, as energéticas e nas tecnologias de informação. Isto em prejuízo de financeiras, "telecoms" e acções de consumo.
3. O refúgio nos dividendos vale a penaPara os investidores menos optimistas e que prefiram garantir uma rendibilidade constante nos seus investimentos em acções, o Morgan Stanley sugere dez "apostas" no Continente Europeu. Não são as empresas que distribuem maior proporção dos lucros aos accionistas, nem são necessariamente as cotadas com o dividendo mais rentável. Mas são aquelas onde o banco vê maior potencial e menos riscos. Mais de metade das "apostas" são empresas de fora da Zona Euro.
"Na nossa opinião, o contexto actual - de grande incerteza a nível macroeconómico, baixo crescimento e política monetária marcada por taxas de juro baixas -, torna vantajosa a aposta em empresas que distribuam dividendos com rentabilidade atractiva", diz o banco norte-americano.
Além de cinco empresas britânicas e de um banco norueguês, contam-se dois pesos-pesados da bolsa alemã - a eléctrica RWE (que paga um dividendo de 5,8%) e a financeira Allianz (4,84%) -, além de uma farmacêutica francesa e uma seguradora holandesa. Entre as britânicas, estão a petrolífera Royal Dutch Shell ("dividend yield" de 4,3%), e as "telecom" Vodafone (7,20%) e BT Group (5,10%). Todas as empresas constam da lista de "compra convicta" do Morgan Stanley, que as considera "portos-de-abrigo" para a volatilidade dos mercados.
4. Apostar num ano positivo em LisboaA bolsa de Lisboa já esteve a perder 22% este ano, mas tem recuperado e chegou a negociar no "verde" há algumas semanas. Nesta altura, perde 2% em 2012 sendo, a par da bolsa de Madrid, a única que continua a perder "terreno" este ano. As bolsas europeias, em média, ganham mais de 10%. Em declarações recentes ao Negócios, João Queiroz, director de negociação da GoBulling, disse acreditar que o PSI-20 consiga terminar o ano em alta. É possível, "a menos que apareça alguma surpresa, um cisne negro".
O director de negociação da GoBulling vê oportunidades na energia e telecomunicações, sectores que na praça portuguesa negociam a desconto face à Europa. "Com o mercado americano ou o alemão a negociarem perto dos máximos históricos, os investidores podem assumir posições em países que demonstrem estar mais perto de recuperarem autonomia no seu financiamento", como é o caso de Portugal. Na bolsa de Lisboa, estão também em destaque a Galp Energia, que este quarto trimestre vai receber os resultados de testes importantes à exploração petrolífera no pré-sal brasileiro. E também a Sonae, que passou a integrar a carteira de preferidas do BPI e passou a ser considerada "bala de prata" ibérica pelo BESI. A banca é o sector para que os analistas estão mais cautelosos.
5. Cotadas pagam bem pelas suas poupançasAs dificuldades de acesso das empresas ao financiamento bancário levaram a que várias cotadas estejam a recorrer às poupanças dos aforradores particulares. Nos últimos meses várias cotadas avançaram com emissões para retalho. EDP, PT, Brisa, Semapa, Sonae, Zon eREN já o fizeram, com juros brutos superiores a 6%, que comparam favoravelmente com as taxas oferecidas pelos depósitos bancários, actualmente em queda.
Neste momento não existem ofertas deste género a decorrer, mas a forte procura em todas as operações significa que esta continua a ser uma "porta aberta" para as empresas. É possível subscrever as operações aos balcões dos bancos colocadores durante o período de oferta, ou investir no mercado passado esse prazo. A dívida das empresas paga um juro periódico e devolve a totalidade do capital no final do prazo, mas há que ter em conta o facto de não se tratar de um depósito.
Não há garantia de reembolso, pelo que o investidor fica sujeito ao risco da empresa. Antes de investir deverá pedir informação detalhada sobre a natureza deste investimento, a fiscalidade e as várias comissões cobradas pelos bancos, que têm forte impacto na remuneração da aplicação. Os bancos são obrigados a dar a Taxa Interna de Rentabilidade, e é essa a taxa que deverá ter em conta antes de investir.
6. Tire partido do risco de subida da inflaçãoO estímulo monetário à economia, em países como o Reino Unido e os EUA, gera receios de que o "efeito secundário" seja o aumento da inflação. A Reserva Federal dos EUA acabou, com efeito, de anunciar uma terceira ronda de estímulos monetários que tem a particularidade de, ao contrário das duas anteriores, não ter limite temporal ou quantitativo. Os mercados estão a interpretar essa decisão como uma admissão por parte da Fed de que será tolerada uma inflação um pouco mais elevada nos próximos anos. Na Zona Euro, a política de baixas taxas de juro de referência e o novo plano de socorro aos países fragilizados pela crise da dívida europeia está a criar receios de aumento da inflação - sobretudo entre os responsáveis do banco central nacional alemão, o Bundesbank. A inflação é capaz de degradar a remuneração real dos investimentos, como as obrigações. É por isso que vários analistas têm vindo a recomendar a aposta em obrigações indexadas à inflação, com destaque para as dos EUA. O Estado português não as emite, mas outros países da Zona Euro fazem-no, como Itália e França, entre outros. Além do investimento nesses títulos, os analistas do JPMorgan aconselham também a aposta em "exchange traded funds" (ETF) que replicam o desempenho deste mercado.
7. Aposte na recuperação da dívida públicaPortugal está fora dos mercados de longo prazo, emitindo só dívida de curto prazo. Mas as obrigações que o Estado emitiu antes de chamar a troika continuam a ser negociadas no chamado "mercado secundário".
O pico da pressão para as Obrigações do Tesouro foi em Janeiro, mas desde então têm vindo a recuperar e são as que mais sobem na Europa este ano. Uma linha que vence em Setembro chegou a ser negociada com uma rendibilidade implícita de 19%, caindo entretanto para 3,2%. A dívida em prazos mais longos está com taxas entre 6% e 8%. Está implícito nestas taxas um risco de que Portugal venha a reestruturar a dívida, algo admitido por agências de "rating" e alguns bancos de investimento. Mas se isso não suceder, são taxas atractivas.
O investimento em títulos do Tesouro costuma ser pouco acessível ao pequeno investidor, mas tem aumentado a oferta por alguns bancos, que actuam como intermediários na emissão de ordens no mercado ou que vendem títulos que têm em carteira. A baixa liquidez no mercado é algo a ter em conta, já que pode não ser fácil vender antes do prazo. Crucial é também conhecer os custos associados, como comissões de compra e custódia de títulos e processamento de cupões. O investidor pode também estudar formas alternativas, como fundos, ETF e CFD.
8. Certificados de Aforro estão de voltaOs certificados de Aforro estão a ter um "renascimento" com as novas regras de remuneração que o Estado passou a aplicar, pela necessidade de obter financiamento adicional enquanto os mercados de obrigações continuam fechados.
O novo cálculo do juro pago por estas aplicações, que podem ser subscritas aos balcões dosCTT, entrou em vigor no passado dia 1 de Setembro e prolonga-se até 2016. A taxa dos certificados disparou de 0,64% em Agosto, o valor mais baixo de sempre, para 3,268% no mês passado. Uma rendibilidade que concorre com as taxas oferecidas pelos depósitos a prazo na banca e que parece estar a estancar a "hemorragia" que se vinha verificando nos últimos meses. Foi com a intenção de travar a fuga de poupanças que as Finanças anunciaram uma melhoria na remuneração dos certificados de aforro. Nos títulos da série B o prémio de permanência recebe um acréscimo de 1% (100 pontos-base), elevando a remuneração mínima para os 3,28%.
Na série C, o prémio passa a ser de 2,75% (275 pontos-base), independentemente do período de permanência na aplicação, elevando o retorno para 3,268%. Estas regras têm um prazo de validade: 31 de Dezembro de 2016. O juro pago trimestralmente, que varia em função da cotação da Euribor a 3 meses, não poderá exceder os 5%.
9. Ouro a caminho de novo recordeO preço do ouro sobe quase 10% em 2012, a caminho de fechar mais um ano em alta. Será o 12º ano consecutivo. E quanto mais sobe o preço, mais os especialistas têm revisto as suas projecções sobre até onde a cotação pode chegar. A maioria diz que o ouro continua a ter margem para subir, beneficiando do refúgio face à crise e servindo de protecção face às medidas potencialmente inflacionistas que os bancos centrais estão a tomar para combater a crise. Bancos centrais que têm estado activos no mercado, contribuindo para fazer subir o preço. Por estas razões, a maioria dos analistas acredita que o metal tem espaço para ser cada vez mais precioso, ainda que essa não seja uma posição consensual.
A utilização industrial e o facto de ser considerado o activo de armazenamento de valor por excelência, leva a que bancos como o Goldman Sachs e o Bank of America-Merrill Lynch a acreditarem que o ouro irá no próximo ano superar o recorde de 1.921 dólares tocado em 2011. O Bofa-Merrill Lynch acredita mesmo que a onça pode chegar aos 2.400 dólares até ao final de 2014.
O investimento em ouro deve levar em conta que o metal é denominado em dólares, pelo que um eventual ganho pode transformar-se em perda se cair o valor da moeda única, o que pode acontecer se não for solucionada a crise da dívida.
10. Prata é a que mais sobe na última décadaO ouro quebra recordes há 11 anos consecutivos e não deixa de ser o metal precioso mais valioso. Mas não é o ouro que mais se tem valorizado nos últimos anos. É a prata. Os preços mais que quintuplicaram entre o final de 2008 e meados de 2011, quando tocou os 48 dólares. Receios acerca da desaceleração económica na China levaram a uma correcção até aos 32 dólares actuais, mas Eugen Weinberg, responsável pelo "research" em matérias-primas doCommerzbank, em Frankfurt, acredita que "os preços estão a ser bem suportados pela procura para investimento mas também para utilização industrial". À medida que o ouro renova máximos históricos, as indústrias recorrem cada vez mais a substitutos como a prata e o paládio, outro metal que também tem vindo a apreciar. Na prata, apesar da correcção recente, Eugen Weinberg acredita que "no longo prazo, os preços da prata vão continuar a apreciar devido aos receios de inflação mas também devido à elevada procura, sobretudo proveniente da China".
A tendência dos preços no próximo ano dependerá em boa parte, diz o analista, do ritmo de expansão económica na China, onde se teme que o crescimento sofra uma "aterragem brusca". O governo e o banco central têm, no entanto, tomado medidas para conter a desaceleração.